domingo, 8 de novembro de 2009

"Imagem também se lê"



Para quem ainda não leu, recomendo o livro "Imagem também se lê" (Editora Rosari) de Sandra Ramalho. Li o livro em 2006, e desde lá recorro regularmente as seus capítulos para relembrar e reforçar os ecritos da autora. O livro me ensionou a "enchergar o mundo de uma outra maneira" (uso essa frase clichê para dizer uma verdade).

Reproduzo, abaixo, o email que escrevi a professora Dra. Sandra Ramalho, no dia 02 de julho de 2006, que me rendeu um autógrafo:

Olá professora. Escrevo porque hoje li "Imagem também se lê". Tenho que contar, entretanto, a história completa. Posso parecer cansativo. Assumo esse risco. Então, conterei tudo.
Na sexta-feira, fim da manhã, minha mãe me pegou na Lagoa para irmos juntos ao aeroporto buscar meu pai, que chegaria de Porto Alegre, por isso não pode estar no meu TCC. Ao descer o morro da lagoa disse a minha mãe que queria "fazer xixi" e não agüentaria até o aeroporto. Solução: paramos no Ceart, a caminho, para que eu pudesse ir ao banheiro. Saí do banheiro e, rapidamente, parei na feira de livro montada no hall central do bloco amarelo. Interessei-me pelo livro da Bachelard, "A Poética do Espaço", que já li há três anos, mas não o tenho e gostaria de reler. Quando o levantei para ver o preço, logo, me deparei com a "imagem" do "Imagem também se lê". Até então não sabia que ele estava por ali. Larguei Bachelard. Peguei o exemplar da Rosari e comprei. Ainda perguntei ao responsável pela feira se não teria desconto por ser estudante, mas ele me disse que esse era o preço "seco", sem lucros.
Bom. Ano de copa. Sexta e sábado ocupados, pelos jogos. Sábado: a decepção brasileira. Ao acordar no domingo, enfim, pensei: o que fazer num domingo em que não se acorda tarde porque não se comemorou pela madrugada a tão óbvia passagem do Brasil às semi-finais? Confesso que desde que terminei o TCC mantive certa distância de livros relacionados a design. Precisava respirar um pouco. Assim, o último que estava lendo era a biografia de Carla Camuratti, "Luz Natural", da minha segunda paixão, o cinema. A primeira é o design.
Hoje, contudo, deixei Camuratti de lado, para ser mais exato pela metade, e li Sandra Ramalho e Oliveira. Se minha modesta opinião tem alguma validade, de antemão já antecipo que adorei. Mas antes de falar do conteúdo falarei do livro enquanto objeto. Para mim, um quase bacharel em design, o acabamento do livro em lombada quadrada, em que as páginas são unidas por uma elegante gaze composta por fios azuis e brancos entrelaçados, coberta por capa dura azul reforçada por mais duas folhas coladas da mesma cor, no início e no fim, carrega consigo toda a riqueza do processo artesanal. Valoriza o fazer manual e garante a qualidade do produto bem acabado, único, exclusivo. Além disso, a estampagem da marca da editora impressa em baixo relevo, na cor branca, dá uma dose de charme ao artefato. Como se não bastasse há o acréscimo de mais uma capa, removível, com acabamento superficial brilhoso, trazendo modernidade e requinte à peça gráfica.
Ainda falando de design (design gráfico, alertando que minha quase formação é em design industrial), o layout do livro me parece ergonomicamente agradável. Gosto dos elementos principais grifados, e principalmente, aprecio as mudanças constantes da posição do texto escrito, ora do início para o fim da página, ora em outras posições. Esse layout proporciona maior dinâmica de leitura, tornando assim o ato de ler mais prazeroso.
Vamos ao conteúdo. Devo dizer que, logo de início, a leitura nos conquista. A história das letras douradas que sumiram da tese de doutorado deixa nós, leitores, muito próximos da autora, e desta forma, cativados. Permanecemos concentrados até o fim do livro. Sobretudo para mim, que também consultei sua tese e também percebi o detalhe das letras apagadas. Inclusive comentei com colega que me acompanhava que deveria se tratar de uma tese muito consultada. Quando vi que o segundo exemplar estava num estado ainda mais crítico, feito São Tomé, tive que perguntar a bolsista da biblioteca, que me confirmou que se trava de fonte excessivamente procurada.
Assim, li o livro de uma só vez, parando apenas para almoçar, e gostei muito. Na qualidade de estudante de design, asseguro que se trata de um livro fundamental. Acho que a linguagem está bem acessível, o texto está muito bem escrito, nos prende, e o conteúdo é extremante relevante.
Terminada a leitura tive a mesma reação de quando li autores de outras áreas e fiz o mesmo questionamento: Por que cargas d´água nós estudantes de design procuramos apenas livros específicos de design? E ainda tive outras: Por que cargas d'água nós estudantes de design temos tanto preconceito com a publicidade? Por que cargas d'água nós estudantes de design não nos juntamos com os estudantes de artes, moda e música? Enfim, ainda temos muito a aprender.
Mas a leitura também me trouxe coisas boas. Sua maior virtude, para mim, foi a possibilidade de olhar (ver) as coisas de uma nova maneira. E como já dizia o velho designer Enzo Mari: "design é uma nova maneira de olhar o mundo".

Quero agora um autógrafo. Pois escrevo como fã. E a professora como escritora deve aturar os caprichos de cada fã. Principalmente do chatos, como eu.

Obrigado,
Marco Ogê.